domingo, 21 de outubro de 2012

ARMADILHAS E DEFUNTOS – (TERCEIRO DIA)


Quando acordei fui avisado que o drow conhecia alguns caminhos por ali. Segundo ele uma passagem na sala de mármore levava até os domínios de Nergal, a outra levava ao poço de água onde estivemos lutando anteriormente. Erestor, Skadi e eu fomos até lá coletar água, mas algo saiu errado, quando Erestor se aproximou do poço foi subitamente tragado por ele e no seu lugar surgiu um homem mal humorado e mal educado. Seu nome era Valkar, surgiu em meios a xingamentos numa língua que era estranha.


Disse que anteriormente também estava no labirinto e segundo a descrição que nos deu dos que o acompanhavam soube que Hilja e Regnar estavam vivos. Outro humano surgiu por ali, não me lembro do nome dele e confesso que mal dei atenção a ele. Hartigan chegou ao local do poço naquele momento e tentou se esconder dos novatos sem muito sucesso. Coletamos água e nos preparávamos para sair dali quando o drow desceu rapidamente as escadas avisando por sinais de algo que havia algo no salão de mármore. Ele se escondeu atrás do poço e começou a preparar sua besta. Skadi sem compreender o que acontecia foi até a sala de mármore, Hartigan a seguiu, ouvi sons de um combate que se iniciava e me aproximei da escada que levava até o local da luta Valkar fez o mesmo. O que vi foi Hartigan usar uma bela manobra pra atacar um troll que estava ali, o monstro atacou Skadi e ela revidou com uma espada que lhe atravessou a barriga quase acertando Hartigan do outro lado, completando seu ataque a elfa deu uma forte cabeçada que esmagou o crânio do inimigo. Valkar utilizou de magia para atacar o troll e este desceu as escadas para atacar o mago, nem teve tempo, Skadi e Hartigan com ataques combinados derrubaram o troll que caiu inerte na escada. Sabíamos que ele se regeneraria e que deveria ser incendiado, Valkar se ofereceu para aquilo e após uma breve discussão acabou por fazê-lo. Skadi desejava investigar os itens do troll, mas não teve tempo e eu descobri mais tarde que isso foi um terrível erro de nossa parte. Voltamos para a tumba do tri kreen em meio a discussões sobre quem é amigo e quem é inimigo, me sentia perdido, com Erestor fora do grupo eu estava sozinho de certa forma, as pessoas que entraram ali comigo eu já não poderia contar. Fiquei alheio a toda aquela conversa. Ao voltar notei que somente Valkar tinha se unido ao grupo, o outro humano deve ter tomado um caminho qualquer, de qualquer forma pouco me importava.
Quando todos retornaram a tumba Hartigan se apressou em procurar coisas, descobriu o que já sabíamos sobre o sarcófago e se alegrou em avisar que ali era uma espécie de elevador. Eu recoloquei a adaga de marfim no sarcófago, pensava que se Regnar estava vivo ele poderia usar aquela passagem. Uma conversa se iniciou, Valkar falava que deveríamos matar Nergal e que estávamos no labirinto da “Senhora das Dores”, ou algo assim. Dizia que estávamos ali para atormentar os prisioneiros. Estranhei aquilo, afinal eu me sentia um prisioneiro. O drow não concordou com nada daquilo, segundo ele só havia uma maneira de matar Nergal e sem saber isso não haveria nada a se fazer, apesar dele conhecer o caminho até o “Hall das almas perdidas”, como disse se chamar os domínios de Nergal no labirinto, ele não expressou desejo de seguir por ali. Eu fiquei em silêncio, de certa forma os assuntos que envolviam este demônio não me interessavam. Theodore que estava na tumba parecia confuso e se sentou, Hartigan e o drow fizeram o mesmo. Somente o drow parecia ter certezas, os outros, assim como eu, estavam confusos até demais. O drow continuou a falar, disse que soube que “Regnar foi salvo como prometido”, isto só confirmou ainda mais o que eu sabia da inocência de Theodore, mas não gostei do fato do drow saber sobre assuntos do Nergal. Falava também que o deus dos sonhos tentou entrar em Sigil e acabou indo parar no labirinto e com isso outras pessoas entraram. Atribui a isto a minha chegada ali, mas pensei em qual foi o mal que fiz aos deuses para ter de sofrer esta tribulação. Até então Skadi nos traduzia tudo, a partir daí Hartigan assumiu a conversa com o drow e não nos deu muita informação a mais.
Enquanto conversávamos ouvi um barulho vindo do corredor bloqueado, todos ficaram atentos, eu peguei meu arco e avancei lentamente. Foi quando ouvi a voz de “Pedaço” que perguntava quem estava ali. Conversei com ele, o bullywug me informou que o Aboleth havia contaminado a água do lugar e que aquilo foi muito severo para ele, me pediu ajuda para salvar seus filhotes. Eu prontamente aceitei, mas sou um fracasso na falta de luz, tentei pegá-los com minha caneca, mas falhei vergonhosamente, graças ao céus Hartigan estava ali e aparou cinco girinos em suas mãos que foram cuspidos num jarro, ou um vômito melhor dizendo, que saiu da boca de “Pedaço” e passou por uma pequena fresta. Hartigan colocou os filhotes com certo nojo dentro da caneca. Ouvi os últimos suspiros de “Pedaço” e soube que aquele foi o fim daquele pobre ser. Não importava o que eu tivesse que fazer eu tentaria manter os girinos vivos. Ao voltar para a tumba tratei pegar algumas formigas no chão e alimentar os girinos, juntei algumas formigas mortas e guardei para voltar a fazer isso no futuro. Enquanto eu fazia isto, Hartigan fazia gracinhas com as traduções do drow. Skadi voltou a falar com ele e ela nos informou que ele disse que poderia nos guiar até Nergal, não gostei disso e muito menos Skadi, nesse momento passei a acreditar que ela era a única pessoa sensata naquele lugar. Meus companheiros voltaram a sala de mármore e eu os segui. Ali o drow indicou a passagem para Nergal, mas foi ignorado. Havia uma terceira passagem que desconhecíamos. Theodore disse “Se encontrar Nergal novamente farei a troca”, coitado, mal sabia ele que a troca já havia sido feita e o que ele ganhou com isso foi só a perda da alma. Hartigan adentrou a passagem desconhecida, antes de entrar ali Skadi me deu seu cantil, guardei os girinos ali, sempre tomo cuidado para não confundir este cantil com o meu. Os “Pedacinhos” pareciam felizes na água pura.
Entramos em um corredor que mais parecia um museu bizarro, quadros de cenas horríveis estavam nas paredes, no chão havia pó de ouro. Se eu soubesse que futuramente precisaríamos montar uma ampulheta eu teria juntado um pouco. O corredor era sombrio, Hartigan tentava achar alguma coisa útil, mas sem sucesso. Do fim deste corredor ouvimos barulho de chuva, bom parecia isto, mas era somente um gotejar de água que vinha de um fosso no teto, a água se espalhava pelo tapete deixando tudo mofado e úmido ao redor. O corredor virava a direita, eu não cheguei a ver o que era, mas Hartigan analisou e salvou-nos de uma enorme armadilha que decretaria nosso fim, o drow olhou e pelo visto ofereceu ajuda mas viu que de nada adiantaria, quem quer que tenha feito a armadilha era muito habilidoso e estava além das habilidades de Hartigan. Decidimos voltar, mas Skadi e Theodore olharam bem antes de sair para o fosso no teto, ali viram o que eles me disseram ser um “monge alado”, segundo o monge o troll havia fugido com os itens dele e que com a bolsa ele poderia nos levar até lá em cima, também nos disse que havia na bolsa uma cornucópia mágica, um item que gera comida. Quando ouvi isso me desesperei e pensei “mas que merda” voltei até o troll inutilmente, tudo havia sido destruído pelas chamas de Valkar. Quando informamos isso ao monge ele visivelmente chateado. Até pretendia nos ajudar, mas daí Hartigan teve a brilhante ideia de falar do Nargal, o monge se assustou com aquilo e sem muito mais dizer foi embora e nos deixou ali.
Skadi parecia nervosa com tudo aquilo, notei que a presença de Valkar em particular a incomodava, ela voltou a frente de todos para a sala de mármore. Ela estava decidida a não seguir até Nergal. Quando cheguei até a sala o que vi foi uma imensa elfa se preparar para um salto, quando ela saiu do chão senti que meu queixo facilmente poderia bater em meu peito tamanho foi meu espanto. Ela subiu muito alto e caiu como um meteoro, a queda fez com que o elevador que anteriormente trouxe o golem de barro agora começasse a descer, todos tiveram tempo de se unir a ela no elevador. Eles conversavam, mas pouco dei atenção. Descemos por um tempo até que finalmente podemos ver um teto, junto a ele estavam pregados muitos corpos o cheiro de morte era terrível e fez Hartigan vomitar. Ainda levou um bom tempo até chegarmos ao solo e quando isso aconteceu não podíamos mais ver o teto do lugar, parecia ser um salão enorme, mas sem motivo aparente Hartigan apagou sua lanterna e nesse tempo não pude ver nada. Hartigan voltou a acender a lanterna e Skadi começou a caminhar na direção de algo iluminado no salão, todos seguiram meio receosos, um frio me percorria a espinha. Quando chegamos finalmente a fonte de luz, vimos que era uma estátua muito grande, parecia ser de bronze. Representava um alto e magro usando capas, luvas e um elmo exótico com uma máscara por baixo. Eu achei aquela imagem familiar, muito familiar por sinal. Nos aproximamos da estátua e então uma voz grave e sinistra, tal qual a que eu ouvi no primeiro enigma que me foi proposto nesse imenso labirinto nos falou:
“Os espiões de Sigil procuram neste lugar segredos que possam vender,
Eles andam juntos com os mais novos que esta terra permeia.
Amante de Osterneth procura aqui por segredos que poucos conseguem entender,
Sua jornada o leva longe a caminhar por esta areia.
Do Thanatos o príncipe começa a procurar no mar do saber.
Ele procura um nome, informação que nenhum dos vivos conhece inteira.
Os arquitetos da nova realidade ele busca sem o ritmo perder.
Que começaram a costruir a tantos milênios quanto ha poeira.”
Por um momento permanecemos em silêncio, todos tentavam desvendar a nova peça desse imenso quebra-cabeça que nos metemos, Valkar parecia o mais seguro e o mais próximo de uma resposta. Eu tentava juntar lembranças sobre tudo que vi ali. O silêncio então foi quebrado por Hartigan que foi até a estátua falando imbecilidades como era sua especialidade, Valkar tentou impedi-lo e foi ignorado. A estátua se desfez em areias, assim como nossas esperanças e sonhos. Quando me lembrei de “sonhos” tudo ficou claro, o drow falou sobre isso, no início o rosto do primeiro enigma era de Morpheus, eu soube a resposta mas já era tarde demais. Pela ira que Valkar expressava ao olhar para Hartigan notei que ele sabia a resposta, de certo a sabia desde o momento que ouviu o enigma, foi tolo por não ter dito. Skadi saiu investigando a sala, todos a seguiram calados. Aquela não seria a primeira vez que um ato impensado nos tiraria uma chance de sair deste maldito lugar.
Andamos a esmo no escuro quando percebemos que mais pessoas despertavam naquele lugar profano. Eis que agora me aparece um druida e no encalço dele um cavalo. Eu pensei comigo “quem viverá mais, o druida ou o cavalo?”, junto a ele apareceu uma bela moça, muito simpática e parecia procurar um amigo, me recordei de uma bela meretriz que gemia quase no mesmo tom de voz daquela mulher. Os magos que nos acompanhavam logo trataram de criar luz mágica e ficou bem melhor andar por ali. Ficou evidente que estávamos num salão imenso, mesmo com toda iluminação o teto ainda não era visível. Caminhamos um pouco e demos com uma parede repleta de alcovas, ossos espalhados por todo lado, percebi que alguém havia mexido no local recentemente e que havia tomado o cuidado de tentar apagar as evidências. O lugar parecia uma câmara mortuária drow. Nos guiando pela parede das alcovas, cujo Hartigan jurou não ter armadilhas, contornamos o salão até dar numa enorme porta de madeira, a frente dela estavam empilhados inúmeros corpos, a priori supus que foi a fome que lhes matou, tendo em vista que parecia que haviam devorado as próprias mãos. Era uma cena horripilante, investiguei mais a fundo enquanto Hartigan analisava a porta, mas não encontrei nada de valor. Hartigan disse que não havia armadilhas e deu um encontrão na porta, talvez esse tenha sido o maior erro dele, não digo que foi culpa dele, mas encorajaria o druida a quase nos matar. Notei que a novata, acho que o nome era Elendri, conversava com alguém, quando me virei percebi que ela falava com um morto vivo. Ele disse que seu nome era Mathew e que era ex-clérigo de Pelor, seu deus o havia abandonado e ele estava naquele lugar há muito tempo, seus ex-companheiros haviam morrido a muito tempo. Não fui muito com a cara dele, mas logo mais deveria minha vida a ele. Em meio a conversa o imbecil do druida resolveu que deveria dar um encontrão na porta tão qual Hartigan havia feito antes e ai começou nossa desgraça.
Ouvimos o som do teto vindo a baixo, comecei a correr na direção do elevador, não vi o que os outros fizeram só queria sair dali, ouvi Mathew gritar “para as alcovas” decidi ir para lá, sem olhar para trás eu corri desesperado amaldiçoando o druida desgraçado e sua ideia genial. Cheguei as alcovas e me deitei ali, sabia que o teto não me esmagaria mas ficar apertado entre os osso era horrível. Pensava milhões de formas de matar o druida, eu já estava saturado de burrices. Ouvia em meio aquele barulho infernal os sons das vozes de meus companheiros, mas não saberia dizer onde estavam. Só então me dei conta que não havia visto Theodore, imaginei que ele tivesse se perdido ou seria dali a pouco mais um daqueles corpos grudados no teto. Quando o teto finalmente chegou ao chão tudo escureceu. Não saberia dizer ao certo quanto tempo passei ali, ouvi a voz distante de Valkar que também praguejava contra o druida. Lentamente o teto começou a voltar para seu lugar eu me levantei e olhava em todas as direções procurando meus companheiros. Foi quando vi Valkar chegar até o druida que chorava sobre o corpo de seu cavalo que estava esmagado. Eu ouvi Valkar o ofender e o druida irritado tentou lhe socar a face sem sucesso. Meu arco já estava nas mãos e uma flecha preparada na direção do servo da natureza, somente havia ódio em meu olhar. Mas Valkar foi mais ligeiro, com movimentos leves conjurou uma magia de fogo que findou a curta estadia do druida naquele labirinto. Abaixei meu arco e voltei minhas atenções para o cavalo, dali terei alguma carne que poderia me ser útil futuramente. A tal Elendri que se dizia tão altruísta não demorou mais do que alguns segundos para pilhar o cadáver recém-torrado, Valkar cortejava o corpo junto a ela. Eu olhei por todos os lados a procura de Hartigan, ele foi um bom amigo. Vi Skadi e o Drow se distanciando e os segui temendo o pior. Quando os alcancei o que vi foram os restos mortais de meu antigo companheiro. A lei da masmorra é mais forte, os caídos não são respeitados e mesmo vi Skadi me passar uma luva e alguma comida que foi dele. Perguntei a ela o que havia ocorrido, ela me respondeu que tentou o levar para as alcovas, mas ele se soltou gritando “eu tenho um plano”. Morreu como viveu, de forma visionária. Skadi me pediu que dissesse algumas palavras, não me recordo quais foram, mas não foram das melhores, eu estava triste pelo que havia acontecido. Mas já não restava nada a fazer. Deveríamos procurar algum caminho naquela escuridão.
Investigamos melhor o salão com o auxílio da luz dos magos, era amplo realmente e podemos verificar que havia duas saídas, uma a conhecida porta grande que disparava a armadilha do teto. Outra uma pequena passagem cujo Skadi recusava-se a seguir. Nas outras paredes havia as alcovas, em lados opostos. Junto a uma das paredes as areias de uma estátua de bronze que nunca saberei se poderia nos tirar daqui. Naquele momento mais alguém despertava no labirinto. Fomos investigar e Elendri não se continha de alegria por descobrir que o novato era seu amigo perdido. A alegria dela me fez pensar “quem em sã consciência ficaria feliz por descobrir que um bom amigo está no ‘merda’”, mas guardei esse pensamento. Chamava-se William o amigo de Elendri, eu o julguei meio afeminado a julgar pelo modo que falava com a bela mulher pensei “ele gosta da mesma fruta que ela”. Agradeço aos deuses o fato de ninguém ler meus pensamentos. Descobri que a pequena passagem parecia ter sido construída para evitar que o grande salão inundasse. Mas como a elfa recusava seguir por ali não dei muita atenção a este fato. Caminhamos mais um pouco por ali e descobrimos uma espécie de sarcófago selado. Nele havia algumas inscrições que logo tratamos de verificar. Pelo visto Nergal havia selado algum ser ali dentro, algo que talvez ele temesse, eu temia Nergal e não quis me envolver com aquilo. Valkar ficou deveras interessado no assunto, isto talvez tenha decretado seu fim, não naquele momento, mas depois. Mathew temia até mesmo se aproximar desta área o que me deu mais subsídios para evitar aquilo, os outros também não demonstraram muito interesse, somente Valkar demorou um pouco mais investigando, mas vendo que todos já haviam se afastado nos seguiu. Skadi agora parecia bem próxima do drow e os dois seguiram até a grande porta, ouvia distante o som de Mathew se alimentando dos caídos e conclui que a pilha de mortos em frente a porta, agora muitos esmagados ou grudados no teto, era na verdade seu alimento. O drow conversava com Skadi e eu não soube o que ele fazia, mas vi que ele começou a mexer na grande porta o que me fez querer correr para as alcovas. Bom, fiquei de lá olhando o que acontecia e para minha surpresa ele conseguiu desativar a armadilha e abrir a porta. Agora havia um caminho e eu cheguei até meus companheiros, novos, quase novos e antigos, e adentrei o local.
Estávamos agora num corredor belo a iluminação fornecida pelos magos revelou um chão coberto por um maravilhoso tapete e belas luminárias no teto, todas apagadas. Andamos cautelosos por ali até que encontrei duas portas. Eu encabeçava a fila de “destemidos” e não me atrevia a abrir nenhuma delas. VI que a da esquerda tinha uma fraca iluminação que passava pela fresta abaixo da mesma. Na da direita nada reparei, mas após um tempo um tempo vindo dali me chamou a atenção e aguçou a curiosidade de todos. Skadi é bem mais corajosa do que eu e deu mais uma demonstração disso. Foi até a porta de onde veio o som e a abriu. Todos adentraram juntos a ela, eu fiquei na porta olhando o que havia ali dentro. Eles notaram que na sala havia um monstro que mais parecia uma barata com antenas estranhas, estava enjaulado e no mesmo cômodo havia um grande baú e um armário. Skadi investigou o armário sem muita atenção e então pegou o baú nas mãos e começou a sacudir. Enfim, ela é corajosa realmente pois o baú se tratava de um monstro, um mímico para ser mais exato. Quando foi sacudido se transmutou em outro ser e começou a peleja com a grande elfa. Todos tentaram ajudar, enquanto a elfa tentava esmagar o ser, Valkar conjurou uma magia contra o monstro, não sei dizer se acertou o inimigo ou se acertou Skadi e pelo que eu conhecia de Valkar acho que ele pouco se importaria. William tentou um golpe contra o monstro e Elendri ficava num canto soltando gritinhos frescos de “vai Skadi”, confesso que quando ela chegou eu pensei que talvez pudesse rolar uma conquista, mas tendo em vista o tipo de homem que ela escolheu para bajular decide voltar minhas atenções novamente a minha vida. Mas Skadi não precisa de estímulo. Num primeiro momento ela esmagou o ser contra a parede e depois com sua magnífica força o partiu em dois. A briga acabou e Skadi nem parecia suar.
Valkar deixou o local durante a briga, primeiramente conversou com Mathew pelo que pude ouvir a distância depois retornou ao grande salão e num piscar de olhos voltou correndo praguejando e anunciou que algumas pessoas estavam atirando flechas nele. Dentro do cômodo onde minutos antes a briga se configurou tudo era uma bagunça, o armário se moveu revelando uma passagem. Mas o anúncio de Valkar sobre um atirador nos alertou, ele Skadi e eu retornamos até a grande porta. William, Elendri e o elfo drow ficaram para trás. Quando chegamos ali vimos que quatro pessoas despertavam no corredor. Um anão, um elfo e dois humanos. Notei que já havia conhecido um dos humanos. Era Ormus um clérigo pelo que me lembro que precisou de uma porrada de Erestor para não encontrar a morte certa. Os outros conheci depois, o anão era Bolfur e se denominava “O Triturador”, parecia um bárbaro e mal sabia falar, não conviveu muito tempo comigo. Dick era o outro humano, arrogante, acreditava que sabia tudo sobre todos, também não passou muito tempo perto de mim. Por último o elfo, Terry, se não me engano, parecia ser bom com o arco, mas a única coisa boa que vi nele eram as flechas que ficariam quando ele morresse. Eu estava num momento desesperador, sabia que eu era fraco demais para me defender em um combate corporal e minha aljava já estava quase vazia, sei que não é uma coisa boa desejar a morte de alguém, mas eles vão morrer e não há nada que eu possa fazer para evitar, me parecia que os novatos no labirinto buscavam a morte, não podiam ver uma armadilha que zás sangue por todo o lado e mais um defunto pra pilhar. E naquele grupo não seria diferente como pude constatar em poucos minutos. Ormus mal falou comigo, ignorou-me completamente e fez o mesmo com os outros. O alertamos que o salão não era um lugar bom e que havia um arqueiro em algum lugar. Mas era a mesma coisa de falar com uma pedra. Pensei comigo “o bom Mathew logo terá mais alimento” e vi Ormus se distanciar mesmo sobre nossas alertas. A última coisa que ouvi ele dizer foi “Se acontecer alguma coisa eu grito” e depois de algum segundos perambulando com seu terço iluminado pelo salão ouvi o um som que pra mim é muito familiar, zunidos de flechas cortando o ar, foram três e a luz do clérigo nunca mais voltará a brilhar.
Enquanto o clérigo caçava a morte eu e os outros voltamos à atenção para o corredor e as portas que ali havia, uma delas já estava aberta e em seu interior sobrou a bagunça após o combate que ali ocorreu. A outra ainda estava fechada e após uma breve discussão sobre abrir ou não Skadi se adiantou e bateu na porta, não obteve resposta da primeira vez, nem da segunda que tentou anunciar a presença, portanto decidiu entrar. Ao abrir a porta todos logo entraram e o que vimos foi um cômodo bonito, iluminado por algumas velas dispostas em candelabros espalhados pela sala, uma escrivaninha e duas estantes repletas de livros. Uma luminária de cristal no teto combinava com as do corredor, a diferença estava que nesta havia uma corda presa em forma de forca, pendurado nesta corda o cadáver de um Githzerai. O defunto estava de pijamas e aos seus pés uma cadeira que combinava com a escrivaninha do lugar, no chão um belo tapete que parecia ter um dia sido um tigre atroz. O cadáver parecia recente, Dick se apressou em lhe roubar as calças, parecia ter morrido de pijama. Dick e Skadi começaram a verificar a escrivaninha e descobriram que o Githzerai estava realizando uma espécie de ritual, Valkar se interessou muito no assunto e me chamou para ajuda-lo a ler alguns dos livros que ali estavam. Ajudei, mas não me interessei muito. O mago estava decidido a completar aquele enigma e com o tempo descobriu que a peça final era a ampulheta que ele havia encontrado desmontada junto aos outros itens do ritual. Ele e todos os outros decidiram arrumar alguma areia, Valkar logo se lembrou da estátua que se desfez. Skadi permanecia por ali meio que sem entender nada do que estava acontecendo. Enquanto todos elaboravam um plano para juntar areia sem que o arqueiro misterioso os pegasse, eu tentei propor uma ajuda com uma de minhas magias, vendo que fui ignorado os deixei de lado. Propus a Skadi investigar a passagem atrás do armário, ela aceitou de prontidão e pra lá nos dirigimos enquanto Valkar induzia o anão Bolfur a se aventurar pelo grande salão no escuro.
Fui com a grande elfa até a passagem, após ela desobstruir a passagem retirando o armário o que vimos foi um corredor curto de uns cinco metros que terminava em uma grade, ali presa estava uma velha que foi logo puxando assunto com uma voz doce. Ela disse se chamar Madame Valerie, implorava pela sua liberdade, falava mal do suicida e falou que ele havia feito um pacto com Nergal e que havia trancado seus poderes num “caixote”. Ela deu a entender que foi esposa dele e que era uma Summon e pedia gentilmente que a deixássemos abrir o “caixote”. Enquanto Skadi prosseguia a conversa ouvindo informações sobre a velha aproveitei um dos momentos que ela disse que queria sair para usar um de meus truques e captar os pensamentos dela. O que vi foi desagradável, não desejo nem ao menos pensar naquilo novamente. Soube que as intenções eram malignas, eu meio tonto e me sentindo mal virei as costas e sai chamando Skadi que já não estava lá muito interessada naquela velha desde que ela pronunciou o nome Nergal. Ao sairmos Skadi recolocou o armário no lugar fechando a passagem sobre protestos de Valkar que havia escutado nossa conversa. Mas agora ele já possuía a areia e entraram novamente no escritório do Githzerai para remontar a ampulheta. Eu fiquei no corredor, ainda me sentia mal. Pelo que vi eles concluíram o enigma e saíram da sala com um ar mais nobre. Notei naquele momento que todas as vezes que um enigma era proposto de certa forma aquele que o realizou se sentia bem, como se tivesse recolocando algo no lugar. Lembrei-me da primeira sala e de ter sentido essa sensação e do momento em que Arky foi embora. Mas minha cabeça doía muito e percebi que Skadi se afastava no corredor, desta vez mais para o fundo. Os outros saíram do escritório, lembro-me de Valkar dizer a Bolfur “Agora preciso que você me guie até outro lugar no salão”. Não gostei daquilo, mas fiquei mais um pouco parado, novamente a Valkar falou para Bolfur que queria compreender o porquê daquilo “preciso que me leve até um caixão...” não me interessava mais, soube onde Valkar queria chegar, Dick, Terry e o pobre Bolfur o seguiram. Já estava cansado de tolos e resolvi ir para junto da única pessoa que parecia possuir alguma sensatez. Sacudi a cabeça para afastar os males e me virei, foi a última vez que vi aqueles quatro, segui até Skadi.
Somente naquele momento me dei conta que o Drow, Elendri e William haviam desaparecido, desde o momento que os deixamos após o combate com o mímico não os vi. Skadi parece ter somente notado a ausência do drow ali também, ela tentou o chamar, mas atrás dela só estava eu. Ela havia parado num porta onde o corredor se bifurcava. Além da porta havia um corredor de paredes cinzentas e logo na entrada um fosso de uns dois metros de diâmetro e seis metros de profundidade, possivelmente o que sobrou de uma armadilha a muito tempo disparada. Vimos que daria para seguir atravessando o fosso e após analisarmos verificamos que lá em baixo havia uma água pura. Skadi retirou da mochila seu equipamento de escalada e desceu. Ela trocou a água do cantil dos girinos e eu entreguei meu outro cantil a ela para que ela enchesse também, antes bebi o que havia sobrado da água. Aproveitei o momento para alimentar os “pedacinhos”, eles pareciam crescer rápido. Depois de alimentados brincavam na água da caneca sem dar muita atenção as desgraças que aconteciam a nosso redor. Skadi terminou de coletar a água e me devolveu o cantil. Guardei novamente os girinos ali e a elfa que já havia atravessado prendeu a corda para que eu pudesse fazer o mesmo. Quase cai e se não fosse por ela eu estaria em apuros. Agradeci e logo começamos a investigar onde daria aquela passagem. Quando começamos a caminhar a porta pela qual entramos bateu num estrondo pela ação do vento. Notei que o chão era de terra e havia várias formigas e larvas, coletei algumas, pois sabia que os girinos precisariam futuramente. Fomos aos arrastos por um estreito túnel que depois se alargava, era de terra e parecia subir. As inúmeras raízes que existiam ali e atrapalhavam a vista também formaram uma espécie de escada natural. Andamos um pouco até chegar num alçapão. Meio receosos o abrimos. Saímos num local que parecia mais um templo a muito tempo abandonado. Após uma olhada cuidadosa vi que deveria pertencer a uma divindade chamada Incabulus, senhor dos pesadelos, mortes e pestes. Havia inúmeros rostos esculpidos na parede do local que era um corredor de uns dez metros de largura. À medida que descia ficava escuro e as faces cada vez mais terríveis, em contrapartida as faces ficavam mais belas e o corredor mais iluminado se subíssemos. Decidimos subir. Caminhamos um pouco e podemos ver a frente o que parecia ser o cadáver de William, junto a ele um monstro estranho que parecia estar lhe beijando a boca. Ao perceber nossa presença nos atacou. Ele estava longe de nós ainda, Skadi já se adiantava para combatê-lo e eu já preparava meu arco. O drow então ressurgiu, estava oculto por magia e carregava uma sacola que tentou enfiar o monstro, mas não conseguiu completamente, eu disparei contra o monstro, minha aljava estava praticamente vazia agora, aquilo me desesperou. Skadi ajudou o drow a “ensacar” o monstro e juntos eles fecharam a sacola mágica prendendo o inimigo.
Skadi parecia feliz em rever o drow e eu confesso que também fiquei. Ele contou a elfa que desapareceu com Elendri e com William e nos disse que havia vindo da parte onde o corredor ficava escuro. Fui até o cadáver de William e tomei-lhe a capa e as luvas, eu precisaria de uma capa nova assim que pudesse me limpar descentemente. Guardei as luvas para uma eventual necessidade. O fim do corredor dava num belo salão, parecia um castelo, belos vitrais coloridos e um enorme trono. Parecia um salão para jantar, mas para nossa tristeza não havia comida. Havia três portas no lugar, uma grande e duas pequenas, das menores uma parecia ser uma saída para os nobres enquanto a outra um acesso dos serviçais. Num dos cantos do salão estava o cadáver de Elendri, cujo Skadi e o drow trataram de tirar o que houvesse de valor. Verificamos estas duas pequenas portas. Naquela que parecia de serviçais o drow averiguou que havia armadilhas e que estava de certa forma quente. Fomos até a outra, Skadi gostou de saber que era uma porta de nobre e começou a dizer coisas sobre antes de chegar até ali. Eu fico curioso toda vez que ela fala, a elfa parece uma dama, uma verdadeira nobre, desde que não esteja lutando. Mas ela se decepcionou quando abrimos a porta, havia uma escada de onde descia uma água barrenta e uma porta nos fundos, nada mais. O drow nos avisou que havia armadilhas na porta. Encorajado por nós tentou desativá-las. Ele tentou a primeira vez sem sucesso e se desculpou dizendo que não era tão bom quanto Hartigan, de certa forma agradeço que não, mas da segunda vez ele foi mais feliz e nos livrou da armadilha e destrancou a porta. Entramos e descobrimos que o local era uma espécie de quarto de servos, havia roupas limpas pelo qual muito agradeci. Decidimos dormir ali naquela noite. Eu aproveitei para me limpar um pouco na água que descia da escada, Skadi fez o mesmo. Peguei algumas roupas de servos que estavam bem limpas e serviriam muito bem posteriormente. Quando nos preparávamos pra deitar o drow me olhava fixamente, notei que ele queria que eu deixasse a única cama que havia no lugar para Skadi, ele disse alguma coisa e a resposta da elfa confirmou o que eu suspeitei, concordei com aquilo, mas Skadi disse que a cama era pequena para ela. O drow se preparava para deitar no chão, mas eu devia aquilo a ele e lhe fiz sinal para se deitar ali, ele abriu um sorriso estranho, a intensão era agradecer, mas a execução foi de alguém que nunca teve de usar desse artifício. Ele parecia realmente feliz de qualquer forma. Antes de dormirmos Skadi bloqueou a porta e o drow a trancou sem reativar a armadilha. Ele disse a Skadi antes de se deitar que nunca havia sido bem tratado e que estava realmente grato. Após isso ele se virou e dormiu, Skadi fez o mesmo. Pela primeira vez antes de dormir ouvi a vida do labirinto, pessoas gritavam, armadilhas disparavam, sons de lâminas destroçando suas vítimas entre outras coisas. Foi a primeira vez que me deitei implorando por sonhos, mas que estes me levassem a um lugar bem melhor, um lugar onde pelo menos naquela noite eu me sentisse livre.

Texto de Rodrigo Silva de Souza

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