domingo, 14 de outubro de 2012

FORMIGAS, DEMÔNIOS E PLANTAS – (SEGUNDO DIA)


Aquele não foi o meu melhor descanso. O sono veio acompanhado de pesadelos sem sentido. Tentarei descrevê-los:
Primeiro vi ‘Pedaço’ ele estava próximo a um local alagado, parecia infeliz e tentava salvar alguns girinos, seus filhos, que ele levava em seu papo, desejava trocar a água para seus filhotes, mas a água estava contaminada e os girinos morreram, chorou e muito bravo com algo mergulhou nas águas. O que veio a seguir foi apenas lapsos, imagens sem sentido algum, apareceu o imenso peixe mestre de ‘Pedaço’, cujo me falaram se tratar de um Aboleth. Um elfo drow que sorria de maneira sarcástica, um rei louco e por vim eu me encontrava em um corredor escuro, ao fundo havia uma mulher que estava de costas para mim, me aproximava lentamente e quando eu estava perto ela se virou lentamente, percebi que ela não tocava o chão e não emitia sombra. Aquela visão me perturbou. De alguma maneira sabia que ela não estava lá, mesmo assim temia. Quando a vi senti meu coração gelar, calafrios e desespero, não saberia dizer quem é, ou melhor saberia mas não ouso dizer seu nome.”
Acordei assustado e Theodore que havia ficado de guarda estava assustado, dizia que ouviu sons vindos de uma passagem que ele nos mostrava. Regnar havia seguido na frente, mal sabia eu que aquela poderia ser a última vez que eu o veria. Quando todos estavam despertos não ouve tempo para tratar do sonho, saímos atrás do bárbaro e Theodore que foi a frente. A passagem que ele indicou revelou o que parecia ser uma espécie de salão mortuário repleto de sarcófagos, o novato percebeu uma fina linha que possivelmente dispararia uma armadilha. Saltamos e seguimos no encalço de Regnar. No chão havia algo ácido que corroeu nossos calçados, seguimos até uma parte onde o corredor se dividia, uma passagem para cada lado, e havia uma porta a nossa frente ouvimos os sons dos sarcófagos se abrindo, várias formigas vinham na nossa direção, pelo teto, pelo chão, tudo estava repleto de formigas. A porta possuía algumas inscrições, tentei ler, assim como Erestor também tentava, mas Skadi tinha uma ideia melhor, com seu potente martelo despedaçou a porta. Theodore achou a solução muito boa. Entramos num local onde duas piras estavam ao lado de um enorme sarcófago, eu consegui ler o que havia escrito na porta as palavras eram:
"Câmara do grande faraó Tri Kreen Rasth"
"Provedor, devorador; Uma lâmina de dois gumes; As raças tentaram lhe impor volumes; aceitaram receber sua dor; Insaciavelmente faminta; tem que ser eternamente alimentado; De sede é extinta; ou teme ser exterminado"
Pelo menos sabíamos onde estávamos, pois não havia tempo de pensar no que aquilo significava. Logo as formigas começaram a invadir o lugar, junto a elas um homem apareceu correndo entrando pela porta carregando muitas formigas, atrás dele apareceu uma espécie de formiga gigante com símbolos dourados no exoesqueleto. Não havia tempo de conhecer o homem que chegava, o combate se iniciou. Erestor e Skadi analisavam o sarcófago procurando uma saída, enquanto Theodore tentava espantar as formigas, eu empunhei meu arco e disparei contra o Formian, este atacava o novato enquanto ele tentava se livrar das formigas com magias que não surtiam efeito. Após algumas flechas os deuses sorriram para mim e o Formian foi derrotado, mas ainda restavam as formigas, Theodore lançou uma das piras contra elas, o homem que chegou jogou uma bolsa de cola nela, eu lancei uma tocha na entrada o que conteve o avanço delas. Ainda restavam muitas, Skadi lançou a tampa do sarcófago contra as formigas revelando um Tri Kreen mumificado, pelo visto a muito saqueado pelo que pude constatar depois. Ainda assim as formigas continuavam a ser um problema o homem que havia chegado finalmente se libertou das formigas e conjurou ratos para afastá-las. As formigas não passavam das chamas que lancei na porta, mas estávamos presos ali.
Enquanto meus amigos olhavam o sarcófago e constataram que ele possuía uma espécie de fechadura que poderia ser aberta com adagas de marfim, uma estava em minha posse, um som veio dos corredores, acreditei ser Regnar e chamei por ele sem resposta. Logo surgiu um feiticeiro acompanhado de um ogro mago e de um drow, lembrei-me de meus sonhos, mas permaneci em silêncio, não gostei daquela visita. O novato teve tempo de se apresentar, seu nome era Brayan e isso é tudo que me recordo sobre ele. O feiticeiro era um Rakshasa, uma espécie de homem-tigre., seu nome era Kar, apresentou seu companheiros, porém não recordo dos nomes. Segundo ele já fazia dois anos que eles estavam no labirinto. E aquele local era parte de Sigil, a cidade dos portais. Pelo que ele falou também pude compreender que era um labirinto infinito e que tudo girava de alguma forma em torno de sonhos. Eu permaneci em silêncio, pude saber que ele não havia gostado de Erestor graças a uma magia anteriormente conjurada para ler a porta desta sala. Kar parecia se divertir em desiludir Theodore e estava interessado em Skadi e na peculiaridade da elfa. Durante a conversa ele nos disse de uma possível saída, depois disso ele se divertia em provocar aqueles que lhe dirigiam palavras, por fim anunciou que poderia chamar Cornugon, um mercador, segundo ele que poderia negociar a saída. Como meus companheiros aceitaram a oferta ele partiu, não sem antes olhar Skadi com olhos desejosos. Ficamos ali inspecionando a sala, Theodore encontrou duas passagens próximas ao sarcófago, este pelo visto funcionava como uma espécie de elevador. Não sabíamos como fazer funcionar, supomos que necessitasse das adagas de marfim, mas as outras duas estavam com Regnar. Enquanto discutíamos sobre nosso próximo passo uma sensação desagradável e ameaçadora nos tomou. O fogo da pira que restava se tornou revolto até riscar a parede do fundo formando um pentagrama, na pira só brasas sobraram um cheiro de enxofre veio antes de aquela criatura demoníaca surgir diante de nossos olhos, era enorme e possuía asas de morcego, segurava um tridente e quando seus olhos se abriram somente duas órbitas negras eram vistas. Apresentou-se como Nergal, Cornugon soldado de Arvenus. Confesso que congelei, o medo tomou conta de mim, nada consegui falar.
Theodore logo foi dizendo que desejávamos a saída daquele lugar, Erestor completou com o pedido que Regnar estivesse bem e também fosse liberto, Theodore concordou, em resposta Nergal disse “Sua alma pelo seu pedido”. Erestor ofereceu a dele de imediato, mas o diabo estava interessado em Theodore e este estava inclinado a aceitar. Por um momento pensei que sairia dali, mas Theodore daria o primeiro grande exemplo de sua burrice. Ele disse ao Nergal “Minha alma por Regnar agora”. Não houve resposta, mas eu soube e pude confirmar mais tarde que ele havia perdido a alma. Erestor exigia saber o porquê à alma dele não servia. O Cornugon deixou Theodore de lado, este já estava perdido, voltava suas atenções a Erestor quando o novato resolve o chamar de “monstro” para ganhar a atenção. Eu descobriria naquele momento que novatos não devem ser levados a sério e que é melhor ficar longe deles, e se possível, os matar rápido ou rezar para que o labirinto o faça. Eis que o diabo realmente ficou ofendido e eu que já estava com medo vi que minha morte agora era inevitável. Mas o novato se ajoelhou e implorou perdão de uma forma tão convincente que acabou perdoado e Nergal disse que só negociaria com ele se ele cometesse os sete pecados mortais. Novamente o Cornugon voltou às atenções a Erestor e disse-lhe que se algum de nós o matasse ele libertaria a todos. Depois disso foi embora e a pira restante na sala voltou a se acender. Erestor exigia que um de nós o matasse, mas foi ignorado, éramos companheiros e haveria um modo de escapar desse tormento. Começamos a sair da sala, Brayan ficou por ali sentado, um sorriso no rosto como se fosse o homem mais esperto do mundo, dizia algo como “agora só falta luxúria e ira, eu não vou estou sendo preguiçoso” e soltava risadas insanas, foi a última vez que o vi.
Notei que algo que fizemos disparou uma armadilha, e tudo agora estava obstruído, só nos restou um corredor e fomos por ali. Saímos em uma sala bonita, um espaço grande no centro havia um fosso e três portas, uma em cada parede que havia no local além do lugar de onde viemos. Todas as portas possuíam um portal entalhado de forma magnífica. Senti que Erestor estava diferente, sua aura agia de forma pacificadora, mas resisti ao efeito. Eis então que outro humano despertava no local, estava um pouco assustado, seu nome era Hartigan logo saiu a procura de armadilhas, mas a burrice de Theodore já nos pregava uma nova peça. Sem se preocupar o guerreiro saiu andando pela sala e pisou em uma placa de pressão, ouvimos o som de pedra arrastando em pedra e Skadi pode ver que algo subia pelo fosso. Já era tarde pra qualquer cuidado e Hartigan inutilmente procurava armadilhas, eu e Erestor nos afastávamos, do fosso surgiu um enorme golem de barro.
Rapidamente disparei contra ele com meu arco, sem sucesso algum, Theodore tentou acertá-lo com sua espada e surtiu um efeito mínimo, Erestor usou seus golpes para tentar algo contra o monstro, sem efeito também, Hartigan tentou uma manobra, mas errou o golpe. Skadi pelo visto sentiu o efeito da aura, Erestor percebeu se afastando para o canto oposto ao combate. O golem agarrou Theodore e lhe esmagou os ossos com uma força descomunal. Notei que o guerreiro sofria e disparei novas flechas, sem efeito algum novamente. Abaixei meu arco, Hartigan tentou mais um belo golpe mas desequilibrado derrubou sua arma, Skadi finalmente se libertou da aura, em um minuto era uma dama no outro a gigantesca força da elfa fez-se sentir em um violento golpe com seu martelo o que admirou os novatos. Sem saber o que deveria fazer gritei sugerindo a fuga, Erestor me respondeu “Você é um bardo, faça o que vocês fazem”. Eu estava assustado, mas guardei meu arco e peguei meu bandolim. O monstro se preparava para triturar novamente Theodore que por algum milagre conseguiu escapar todo sujo de barro escalou pelo braço do monstro e deslizou pelas suas costas caindo em segurança do outro lado. O monstro então decidiu que era hora de atacar Skadi, mas falhou. Recebeu um revide violento do martelo da elfa. Theodore ainda lhe deu mais uma boa espadada pelas costas.
O monstro já parecia bastante avariado e ali estava eu com meu bandolim nas mãos e sem saber o que fazer, estava tenso e comecei a tocar uma música para inspirar meus companheiros. Este foi o primeiro verso: “Avante guerreiro destrua o mal, seria perfeito uma espada vorpal”. Quando notei o que cantava pensei “mas que porcaria de bardo eu sou!” Erestor pareceu ter gostado, Theodore abandonou o combate pra ir ver o que havia na outra porta. Pensei “mas que cara burro”. Hartigan novamente errou seu golpe, Skadi sofreu um duro ataque do golem que foi revidado com um belo golpe de baixo para cima que acertou o monstro desfazendo em barro por onde o martelo acertava. Uma sombra surgiu e veio na direção de Theodore, ouvi algo como “Regnar vive, como prometido” daquele ser macabro, naquele momento conclui o que eu havia pensado antes sobre o pacto com Nergal. A sombra caiu aos pés do guerreiro. Continuei minha música: “Nos labirintos profanos encontramos a luz, guerreiro sua força a saída conduz”. Bem agora eu achei que estava voltando a velha forma. Erestor tenta conversar com a sombra que se assusta, ela tentou pegar Theodore que se afastou. Hartigan então mostrou imensa habilidade, deslizou por baixo da criatura enroscando sua corda nos pés do monstro, saiu do outro lado e com um movimento rápido puxou as cordas tirando o sustento do inimigo que tombou no chão, sacou sua lança e tentou um belo golpe, mas acabou falhando novamente. Skadi deu um leve passo e desceu impiedosamente seu martelo contra o monstro que não resistiu e sucumbiu ao poderia da elfa se desfazendo em poças enlameadas de argila. Mas uma vez eu estava a salvo, naquele momento eu soube que deveria compor algo em homenagem àquela maravilhosa, e peculiar, elfa.
Em seguida todos pareciam cansados, guardei meu bandolim e me lembrei da pequena Aya e da varinha que ela me deu, a procurei em minhas coisas e descobri ser uma varinha de cura, fiquei feliz por isso. Hartigan desarmou as armadilhas que havia no local. Theodore insistia que em uma das passagens havia um poço com água. Após alguma conversa fomos por ali, Hartigan na frente. Descemos por uma escada no final dela havia um corredor repleto de heras, no meio deste local um poço emitia uma luz mágica, o calor da luz parecia agradar as plantas, havia água e esta evaporava deixando um cheiro agradável de orvalho no ar. Hartigan entrou no corredor das heras e antes mesmo que pudesse dizer algo uma das plantas o “fisgou” e começou a sufocá-lo, novamente estávamos sobre ataque. Erestor tentou golpear alguma das vinhas que nos atacavam, assim como Theodore, uma das plantas fisgou Theodore. Eu estava ainda na escada e atirei contra uma das plantas, não sei dizer o porquê, mas minha flecha a matou instantaneamente. Skadi estava estranha, parecia cansada, mas ainda assim conseguiu libertar Theodore, com um movimento rápido Hartigan também se libertou e tentou atacar falhando vergonhosamente, Erestor acertou uma das vinhas que caiu.
Nesse momento um bastão de fumaça passou sobre minha cabeça e caiu no centro da sala, o lugar ficou tomado pela fumaça negra e intoxicante em segundos, pequei a varinha de Aya e a usei em mim. Os outros vieram de volta para a escada, Theodore ao chegar sacou sua besta e apontou para cima, só então percebi que um drow estava ali, curiosamente era o mesmo que estava com Kar, o Rakshasa. Meus instintos me fizeram temer. Mas o que seguiu foi uma conversa que não pude compreender, Hartigan falava como o drow em élfico pelo que pude notar, a meu ver em tom ofensivo, eu e Erestor tentávamos pedir que ele intermediasse algumas perguntas, mas ele mal nos deu atenção. Vi que Theodore abaixou sua besta e a guardou. Hartigan falava que o drow nos ofendia, eu estava confuso. Quando percebi o que estava acontecendo eu havia acabado de conjurar uma magia que me permitia conversar com o drow, mas seria inútil. Theodore nos deu mais uma de suas inúmeras demonstrações de burrice.
Sem avisar ninguém o guerreiro retornou até o poço para tomar água, eu penso escrevendo isso, “será que um lutador experiente acreditaria que uma fumaça acabaria com nossos inimigos?” a resposta provavelmente é não. Uma vinha o fisgou e numa demonstração de sagacidade desmedida Hartigan correu até ele só para também ser fisgado, Erestor tentou ajudar Theodore sem muito sucesso, Skadi também falhou nisso e eu tentei pedir ajuda ao drow, que foi logicamente negado, afinal quem ajudaria alguém que minutos antes mirava um dardo em sua direção. Enfim corri até a sala para presenciar o desacordado Theodore e o curei com uma magia, ele acordou, mas ainda estava preso, Skadi tentou liberta-lo e conseguiu. Theodore voltou para a escada, eu via agora que Hartigan estava desacordado, em desespero tentei com todas minhas forças libertá-lo, fracassei, mas Erestor o fez e após isso um dardo envenenado disparado pelo drow acertou a vinha que morreu pouco depois. Conseguimos escapar. Já em segurança na escada tratei dos feridos com a ajuda do presente de Aya enquanto agradecíamos ao drow. Agora eu conversava com o drow. Ele me contou que estava ali atrás da honra de sua família, também falou que procurava por seu pai. Minhas memórias logo me revelaram que ele se referia ao drow que encontramos no início disso tudo, já morto pela mesma armadilha que encontramos ao entrar nesse labirinto. Ele me perguntou da armadura e eu lhe contei o que havia acontecido, falei que a demos para a hobgoblin, fui honesto com ele não era meu desejo mentir sobre aquilo. Falei da aranha que Erestor encontrou, o drow se aproximou, mas a aranha também o rejeitou. Ele parecia triste com as coisas que falei, mas tentava ocultar os sentimentos. Mas também me pareceu um bom amigo. Perguntei seu nome, afinal não me recordava, mas ele somente me disse que vendeu o nome para que pudesse encontrar a armadura de seu pai. Aquilo me soou estranho, tive medo que isto pudesse ser mais algum negócio com o terrível Nergal, mas silenciei. Apenas pedi auxílio para que pudéssemos encontrar um local para descansar e sugeri, a pedido de meus amigos, que ele nos acompanhasse. Ele aceitou a companhia, disse também que havia abandonado Kar por não gostar deles, apesar de achar tudo curioso e um pouco mal contado, a oferta de um local para descanso me agradou bastante. Seguimos com ele e acabamos por voltar a tumba do Tri Kreen. Ali descansamos. Hartigan generosamente me cedeu comida, fato que agradeço muito, eu estava cansado e faminto, mas depois que comi me senti melhor. Todos já dormiam e eu ainda estava absorto em meus pensamentos, o drow fazia a guarda. Lentamente o sono me dominou, rezei aos deuses que me privassem dos sonhos.
Por Rodrigo de Souza



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