segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Marcas da heresia


[Matheus Marraschi]

Hoje eu resolvi fazer e postar uma breve narrativa um tanto quanto inusitada. É um gancho que pode ser adaptado para qualquer sistema, embora eu indique 'All Flesh Must Be Eaten' ou algo da serie 'Dark Ages' adaptado pra mortais. Trata-se de uma forma diferente de abordar uma infestação de zumbis, que foge do convencional 'Sci-Fi'. Resolvi criar algo que ligasse o apocalipse de zumbis a um fator mítico, e para isso, adaptei o tema para a fictícia Hamlin (um vilarejo inglês citado em uma dos livros suplementares do AFMBE). Gostaria que conferissem abaixo... Obrigado! :)



(...)


"Marcas da heresia"
Tema: http://migre.me/cqvo5

Era uma noite de inverno fria e calma quando o fatídico ocorrido fora anunciado: Katherine havia sido capturada!
Condenada por necromancia pela igreja católica, a mulher de meia idade não viu alternativas a não ser fugir para as escuras florestas próximas e acampar sob os carvalhos desnudos e retorcidos, porém a mesma não durou muito tempo. Os soldados de Hamlin frequentemente trilhavam pelas florestas a fim de escoltar nobres e numa dessas escoltas seu acampamento fora encontrado. Katherine fora espancada e levada de volta para o vilarejo por soldados de armas na bainha que usavam suas tochas para iluminar o caminho. Sua execução não podia esperar, a bruxa não deveria passar daquela noite, portanto, a grande fogueira começara a ser erguida na pequena praça de Hamlin, enquanto os soldados anunciavam aos gritos o evento repentino, brandindo suas tochas na escuridão.

Os olhos curiosos não delongaram até rodear a fogueira que era montada, enquanto Katherine ,erguida, era presa brutalmente pelos tornozelos e pulsos, em uma tora de madeira vertical. Hamlin estava tomado por brumas, o que era normal nessa época do ano, dando um aspecto ainda mais fúnebre ao evento vindouro. O representante do clero local estava ao lado de dois soldados, o senhor de poucas rugas e cabelos grisalhos esperava ansiosamente o amontoado de madeira ser banhado em óleo para poder aplicar a sentença da bruxa. Os soldados que se colocavam ao lado do padre, portavam, além de tochas, os livros de Katherine, que também seriam jogados ao fogo, avaliados pelos inquisidores como símbolos do pecado. Para todos ali, o significado do evento que estava para acontecer era basicamente religioso, uma vez que o fogo simbolizava a purificação, configurando a ideia de desobediência a Deus (pecado) e ilustrando a imagem do Inferno. Portanto, estes reagiam com uma certa euforia interna, ansiando pelos gritos da herege.

O carrasco se colocou ao lado da grande fogueira, erguendo sua tocha, quando o padre finalmente começou a sentenciar Katherine a morte, anunciando a todos ali presente os motivos da sentença. A mulher, em desespero, chorava e gritava, pedindo clemência aos inquisidores, tentando inutilmente alegar um equivoco na sentença. Lágrimas desciam como cachoeiras, escorrendo pelas olheiras fundas da mulher em seu rosto sujo, que implorava aos berros por piedade. Seus gritos ecoaram pelas proximidades, alarmando ainda mais curiosos (campesinos que já se aprontavam para dormir em seus casebres), porém, o representante do clero continuava a ler a sentença com sua voz serena e fria, ignorando completamente o desespero de Katherine. Quando, finalmente, as palavras do homem se extinguiram, a bruxa retomou o fôlego, engoliu o choro e encarou a todos enquanto pronunciava suas últimas palavras (palavras estas que o padre permitiu, acreditando que ela estaria se arrependendo diante todos ali dos pecados cometidos, se enganou)...

Suas feições em seu semblante mudaram de forma repentina, o medo se transformou em ódio. O horror era notado em seus olhos inchados, que muito amedrontavam até mesmo os soldados que se posicionavam formando um perímetro na fogueira. A mulher, outrora desesperada, começou a praguejar contra todos, cuspindo palavras e insultos aos seus algozes. Uma maldição fora rogada antes que seu corpo se transformasse em cinzas... Os gritos de repulsa de Katherine anunciavam que, em dois dias, todos se arrependeriam do que fizeram a ela, e que não haveria salvação ou apelo religioso que os salvaria da dor e do sofrimento dos dias vindouros. Ignorando completamente as palavras da mulher, que certamente estava delirando, o carrasco desceu a tocha, que tocou a madeira banhada em óleo, alastrando a chama como uma serpente por todo o amontoado de madeira. O fogo cresceu e encorpou, pegando o corpo de Katherine que gritava desesperadamente. Seus gritos eram abafados pela euforia dos camponeses de Hamlin, que comemoravam, maldizendo a herege frequentemente (Queime, sua bruxa!).



A constante inalação da fumaça extinguiu a vida de Katherine antes que as chamas da grande fogueira se dissipassem, mas todos permaneceram lá até que somente as cinzas restassem. Estavam no meio da madrugada quando retornaram para suas vivendas. O cheiro de fumaça e carne queimada perdurou até o amanhecer (que tardava a surgir no inverno). Uma noite fria, porém, revigorante para os inquisidores que deitaram a cabeça em seus travesseiros e dormiram tranquilos, esquecendo-se das palavras de Katherine...
Dois dias depois, como dito pela bruxa, os mortos do canto das colinas, da cripta dos soldados e outros cemitérios próximos (ou dentro) de Hamlin se ergueram de seus túmulos, rumando para o coração do vilarejo e guiados por apenas uma motivação: a fome!

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