quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Tramas de Seda


[Matheus Marraschi]

Segue abaixo uma narrativa que eu criei pra ambientar a chegada do meu grupo Floresta das Aranhas (Terra dos Vales). Espero que gostem :)

(...)


"Tramas de Seda"
Tema: http://migre.me/deBh3





Muitas são as lendas contadas a respeito da floresta das aranhas, e poucos são os que realmente estiveram em seu interior para confirmar tais relatos. Cada uma das palavras citadas pelos muitos camponeses dos vales em tavernas a respeito dos perigos que espreitam naquele lugar borbulhavam na cabeça de cada integrante do grupo naquele momento como um caldeirão. Lá estavam eles, além dos limites do perímetro improvisado pelos cavaleiros da liberdade (vale da adaga), no interior da floresta tenebrosa. Tinham uma forte motivação para atravessá-la, mas esta não sobrepujava o temor, contido nas profundezas de suas mentes atormentadas.

Faltavam poucos dias para o último mês de 1373 e, como de costume no inverno dos vales, as noites eram longas e os dias curtos e escuros. Caminhavam puxando seus cavalos pelas rédeas, esquivando-se das muitas árvores mortas e retorcidas que se colocavam no caminho sem trilha. As copas das árvores nuas não exibiam folhas, mas sim teias. Teias encorpadas e volumosas, que pegavam toda extensão dos galhos desolados, muitas das vezes, criando pontes de uma árvore para outra. Aqueles conjuntos de fios de seda segregados e pegajosos também se alastravam pelas cascas dos caules envelhecidos das árvores de mortas, as quais o grupo evitava ao máximo tocar. Pequenos aracnídeos eram frequentemente vistos transitando nos fios entre um galho podre e outro. Alguns mais furtivos posavam nos ombros dos distraídos, mas eram rapidamente espantados ao serem percebidos. O terror e a hostilidade eram sentidos no ar, alertando a todos, que a cada barulho de galho seco se quebrando, viravam freneticamente o pescoço para olhar em volta.

A neve que caía lentamente não tocava ao chão, os cristais ficavam agarrados no aglomerado pegajoso de teia que pegava toda a parte superior dos carvalhos. Assim como a neve, a claridade também não transpassava a seda pegajosa, causando uma leve penumbra similar ao fim da tarde mesmo durante a manhã. O odor era desagradável, similar ao mofo, e o chão (cuja neve não tocava) era uma mistura nojenta de teias envelhecidas com lama seca e musgo. Mesmo com a proteção improvisada da floresta recoberta, ainda era possível sentir o frio aumentando, conforme o inverno profundo ia se aproximando. Volta e meia passos eram escutados ecoando ao longe na floresta soturna. Estes eram similares a estacas rebatendo constantemente os cascos podres dos carvalhos mortos. Possivelmente aranhas maiores do que podiam imaginar, percorrendo de uma arvore para outra.

O medo fez com que o primeiro dia naquele terreno terrificante passasse lentamente, apesar de nada ter acontecido. Enquanto sentavam-se na escuridão e conversavam aos sussurros no meio da noite, se viam estranhamente satisfeitos com a monotonia da viagem. Mais dias de caminhada estavam por vir no interior da floresta das aranhas e, se realmente as lendas sobre aquele lugar fossem reais, certamente mais dias monótonos de viagem seriam muito bem vindos. Se enrolaram em seus mantos e fecharam os olhos esperando o sono chegar. Pela primeira vez não pensavam no futuro breve ou cogitavam planos enquanto lutavam contra o medo para dormir, mas sim, pediam aos Deuses pela vontade de sobreviver lá dentro.

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