terça-feira, 26 de março de 2013

Relatos de aventura- All Flesh Must Be Eaten


[Matheus Marraschi]

Acompanhem abaixo a narrativa que fechou a última sessão (quinta sessão de jogo) que eu mestrei em minha mesa de "All Flesh Must Be Eaten". Após terminarem de ler, me respondam: Será que os jogadores ficaram cagados? HAHAHA


(...)

"O Véu Soturno da Noite"
Tema: http://migre.me/dQP63 (Começa a tocar a partir do quarto parágrafo)


Já faziam alguns dias que a tradicional e pacata cidade de Nova Orleans havia sido assolada por um vírus mutagênico mortal. Era dia 31/12/2012, e um grupo de sobreviventes se esforçava se desligar da realidade catastrófica, no terraço de um prédio no subúrbio da cidade. Um grupo de poucas coisas em comum, entre elas a vontade de sobreviver diante da desolação que tomava conta de cada bairro, cada rua e cada beco. Mas, naquela específica noite de inverno, tudo que eles queriam era buscar forças para não deixar as últimas gotas de esperança secarem. Em dias nefastos e selvagens como aqueles, qualquer oportunidade (por mais absurda que fosse) de não se corromper, enlouquecer ou morrer, era válida.

Estavam refugiados naquele prédio antigo e gasto há pouco menos de uma semana, e dividiam o terraço com o único intuito de ‘festejar’ o inicio de mais um ano. A energia elétrica ainda existia na cidade, e ela era parte da força que os mantinha luta pela sobrevivência. Ray e Miller debruçavam-se na sacada do terraço, seis andares acima do chão, e conversavam enquanto observavam os mortos rastejando-se pelas ruas solitárias como almas penadas. Os poucos postes que ainda possuíam iluminação serviam para mostrar a morte sendo conduzida pelas ruas soturnas. O velho Frank permanecia sentado em sua cadeira de balanço, observando fixamente os prédios vizinhos com uma expressão ranzinza. Shelby e Benjamin petiscavam a mesa de frios, pifiamente improvisada para a ocasião, enquanto Michael observava a jovem, encostado na caixa d’água do prédio.

O clima não era dos melhores, de fato, era bem mais difícil do que se parece ignorar o mundo que os cercava naquele momento. Frank já estava bem velho, perdendo levemente a noção da realidade, e isso preocupava Shelby (sua filha) cujos passos eram dados unicamente em prol do conforto de seu velho e rigoroso pai. O vento frio soprava, balançando o toldo de plástico que serviria para protegê-los da chuva que certamente cairia naquela madrugada. Volta e meia os gemidos dos corpos sem vidas que perambulavam pelas ruas, abaixo dos postes de luzes amareladas, eram ouvidos e isso servia para mantê-los na realidade sombria. Assim seguiu a tentativa de festejo, proposta pela própria Shelby, que acreditava cegamente na possibilidade de um ano melhor.

Muitos dos 9 sobreviventes pensavam em tudo que fora deixado para trás, e de como tudo aconteceu tão rápido... Famílias e amigos, tudo parecia ter feito parte de um sonho distante. A reflexão pessimista fora quebrada pela voz de Shelby, que anunciava os dez segundos finais de 2012. Todos se aglomeraram embaixo do toldo para se proteger da garoa que caía, e se juntar a Frank, que não levantava daquela velha cadeira. A contagem regressiva fora feita até o fim e, por alguns segundos, todos se abraçaram, finalmente saindo da imersão assustadora em que foram submetidos. Porém, o momento aprazível fora, literalmente, coberto pela escuridão, pois, pouco tempo após a chegada da meia noite, misteriosamente, toda a rede elétrica da cidade de Nova Orleans havia sido cortada!

O breu silencioso foi o que restou para eles que se mantiveram calados em uma espécie de luto catatônico por uns breves minutos. A serenidade sombria fora quebrada por Shelby que, desesperada chamava pelo pai na escuridão. A jovem fora rapidamente acolhida por Ray e Miller que, com dificuldade, conduziram-na até seu velho pai. Todos estavam assustados demais para conceber a coincidência que foi a energia ser cortada logo nos primeiros segundos de 2013, com exceção de Gevolx. O americano de origem europeia tinha para si que aquilo estava longe de ser uma coincidência, e o mesmo se prontificou em tomar a palavra e anunciar o arbítrio final aos seus companheiros, alertando-os de que a comida desapareceria mais rápido do que a esperança nos dias vindouros.

Coincidência ou não, as noites seriam tenebrosas a partir daquele dia, e toda tentativa ineficaz de revigorar os ânimos se afundou nas mais profundas trevas.

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