domingo, 30 de setembro de 2012

Em busca de poder 2


Por duas noites eu andei. Por duas noites não encontrei ninguém. Podia escutar lupinos à distância, se estavam atrás de mim eu não sei, mas não fui encontrado (ou não queriam chegar onde estava), talvez tanto tempo no meio deste mato tenha afetado meu cheiro a ponto dos lobisomens estarem com dificuldade de me farejar.


Continuei minha caminhada apressada, até o horizonte começar a clarear, sentia sede, precisava de sangue. Estar na estrada em terras desconhecidas, com inimigos em minhas costas e com sede não é algo agradável, muito menos seguro.
Mais alguns minutos andando e me deparo com uma fina coluna de fumaça que subia aos céus, com certeza eram humanos, porém julgando a distância e a claridade que começava a reinar nos céus não seria nesta noite que iria me alimentar. Percorri a maior distância que pude, adentrei um pouco mais para a floresta e ali me fiz um com a terra, “que poder útil esse” foi a ultima coisa em que pensei antes de adormecer.
Acordei, a sede me incomodava, tentei perceber algo a minha volta, quando julguei seguro sai da terra. O céu ainda estava com um pouco de claridade, sempre acordava assim que o sol se punha, tinha que aproveitar a noite, mesmo ela sendo mais longa nesse período do ano.
Surgem estalos a alguns metros atrás de mim, minha mão vai de encontro com o cabo da espada em reflexo, ao mesmo tempo em que me virava em direção aos ruídos, e graças ao abençoado clã a qual pertenço, me envolvo com as sombras, e fico ali estático, apenas observando e com a mão na espada que ainda estava embainhada. Havia um homem caminhando, machado preso à cintura, aparentemente cansado, o suor escorria em sua testa, de estatura baixa e constituição poderosa, roupas simples, mas com um resistente par de botas que não deixei de notar, precisava de um. Andava em minha direção. Impossível, ele não pode me ver, não enquanto estou nas sombras, passo a passo se aproximava, foi quando percebi. Este homem caminhava em direção a fumaça! Uma vila talvez? Um acampamento? Com certeza eu digo, ele coletava madeira, ou apenas derrubou árvores, já que não tinha nem uma peça se quer em seus braços.  Ele já estava a menos de dois metros a minha frente quando sai da proteção das sombras. Seus olhos se arregalaram de imediato, abriu e fechou a boca como se não soubesse o que falar, seu corpo indicava que sairia em disparada caso eu não fizesse algo para impedir. Foi quando eu fiz, assim que seu olhar se cruzou com o meu, sorri e disse “Me leve até sua casa, senhor!”, por um momento achei que ele conseguiria resistir, mas estava enganado. Este pequeno homem endireitou seu corpo e começou a andar dizendo “É logo aqui, venha!”. Posso estar em terreno selvagem, mas ainda sou um Lasombra.
Caminhamos por pouco tempo e chegamos a uma pequena vila, poucas casas, 10 no máximo. Todas já se encontravam fechadas, com luzes que tremulavam em seu interior. Como era de costume, o sol se punha e as pessoas se trancavam com medo do escuro, mas havia ali uma casa que esperava o retorno do seu dono e foi ali que aquele gentil homem me conduziu. Era a ultima casa, próximo a um armazém, onde provavelmente guardava os animais dos moradores, tinha pilhas e pilhas de madeira ao lado desta casa, eu estava certo! Era um lenhador.
A porta rangeu ao abrir, seu interior revelou uma casa pobre, um cômodo, ferramentas penduradas nas paredes, um serrote, martelo, machados, foices. Próximo à fogueira havia peles penduradas para secar. Ao perceber aquela pequena fogueira, quase perdi o controle, o instinto de sair correndo foi forte, mas consegui me controlar. Havia vários móveis, mesas, cadeiras, cômodas, armários, alguns empoeirados e jogados. Sentada numa das cadeiras uma mulher com olhar de espanto, nem respirava, me olhava atenta, um pouco mais atrás tinha uma criança brincando com algo. Não pude resistir, abri um largo sorriso para aquele homem que gentilmente me entregou seu mais precioso bem; sua família, com sangue pulsante em suas veias.

PRIMEIRA PARTE

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